Uma senhora, vizinha, há uns 2 anos atrás teve um surto psicótico.
Ela pegou uma faca, enfiou na barriga. Foi uma gritaria. O samu chegou logo. Ela ficou internada no Hospital Psiquiátrico e esqueceu de quem ela era.
Sumiu todas as lembranças. Ela que sempre foi super solícita, sempre passava na frente da minha casa, me cumprimentava. Ela se esqueceu de tudo. Dos filhos, do marido, dos netos, dos amigos.
E hoje a vi, fazendo seu passeio diário matinal. Estava magra, pálida. O marido, ao lado, caminhando com ela, abatido,com as roupas amarrotadas. Acenei, sorri. Ele acenou. Ela continuou olhando fixamente pra frente, caminhando devagar. Um olhar sem expressão.
Eu continuei em frente. E refleti ao longo do dia.
Ela perdeu a identidade, dentro da cabeça dela deve apenas cantar o grilo. Ela não tem expressão nenhuma. Ela apenas sobrevive. Não consegue viver sozinha. Sempre vigiada. Sim, ela teve um pequeno surto, e a mente dela escolheu viver em outro mundo que não esse. Será que ela é mais feliz assim ? O psicótico sofre demais, até mesmo por escolher viver no mundo só dele, o mundo daqui de fora cobra uma postura que ele não quer.
Ela tem alguém do lado dela, que mesmo com a roupa amassada, com o olhar cansado, leva todos os dias para o passeio matinal, e esconde todas as facas da casa, porque por mais que tenha perdido ela fisicamente, ela já está longe e o maior medo dele é perde-la fisicamente. Ele a quer presente, mesmo ausente. E isso é sacrificante. ele sofre. ela não. ela não sabe o que acontece por aqui.
Um comentário:
"...e a mente dela escolheu viver em outro mundo que não esse."
Este trecho disse tudo minha flor.. Às vezes, ela está mais feliz assim. Em um mundo paralelo ao nosso. Mas o amor que ele tem por ela, este me emocionou muito. Isto é raridade nos dias de hoje.
Beijinhos!
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